sexta-feira, 1 de junho de 2012

Roubei a ti, Joana, mãe de um Duarte como eu

Esta noite acordei e estranhei o silêncio. Não havia barulho nenhum e pensei que o mundo tinha até acabado e tu te tinhas esquecido de mim. Pus a boca no trombone e tu apareceste. Ainda bem!


Fiquei tão feliz no calor do teu peito que acabei por adormecer antes de mamar tudo o que precisava. Quando percebi que me ias pôr no berço, chorei de novo, mas não tentes negar: estavas com pressa para ir dormir outra vez.


Deste-me de mamar novamente, assim, meio apressadinha e depois trocaste-me a fralda. Estava tudo tão calmo, um silêncio, nós os dois juntinhos.


Estava óptimo e eu perdi o sono. Tu até foste compreensiva, mas começaste a bocejar e fizeste-me dormir. Eu não queria dormir. Talvez eu precisasse de mais dez minutos, meia hora.


Mas tu estavas mesmo decidida a dormir. Foste ficando nervosa e até chamaste o papá. Eu não queria o papá e todos fomos ficando muito irritados. No final de contas acordei a casa inteira cinco vezes. De manhã a nossa família estava com cara de quem saiu da discoteca. Acho que estraguei tudo.


Imagina, chegaste a dizer ao papá que eu estou com problema de sono. Eu não!


Tu é que me vens dar de mamar com pressa e eu sinto que não queres ficar mais tempo comigo.


Os adultos têm hora certa para tudo mas eu ainda não entendi essa do relógio e das tarefas estafantes que as pessoas grandes têm de fazer. Quando o meu corpo está com o teu, quero ficar do teu lado sem me separar nunquinha. Do alto dos meus três meses ainda não descobri que tu és uma pessoa e eu sou outra.


Um dia, eu vou sair por aí, vou saber telefonar mas posso-te deixar doida só por não saberes o que ando a fazer e então vais entender como me sinto agora.


Mas não precisamos dessa guerra mamã! Até lá poderemos nos entender através das palavras.


Sinto a angústia da separação, pois acabei de viver uma das grandes. Tu também, mas vives tudo isso como adulta consciente. Eu ainda vivo no inconsciente.


Por enquanto a nossa comunicação directa fica restrita aos nossos sentimentos inconscientes. Eu não sei nada, tudo é novo para mim. Tu podes até achar que não sabes nada e que tudo é novo para ti, mas eu vou aprender o que tu me ensinares através da tua sensibilidade, dos teus sentimentos em relação a mim.


Sabes, mamã, se queres um conselho, vou dar-to: quando eu chorar à noite, não saltes logo para o meu berço desesperada, como se o mundo fosse acabar. Espera um pouquinho, respira profundamente, ouve o meu choro até que ele atinja o teu coração. Sente o teu tempo, acorda como deve ser e vem-me buscar. Abraça-me devagar, não acendas a luz, fala bem baixinho e dá-me o teu peito para eu mamar. Depois de eu arrotar, mais um pouco só de paciência, pois nós, bebés, somos muito sensíveis aos sentimentos dos adultos, especialmente os das mamãs. Se eu sentir que tu estás com pressa, sou capaz de armar a maior confusão, mas se esperares até ao meu segundo suspiro, quando os meus olhos ficarem bem fechados, as minhas mãos e pernas bem molenguinhas, aí sim podes me colocar de volta no berço que eu não acordo antes de sentir fome outra vez.


Conforme fores desenvolvendo a tua paciência, eu estarei desenvolvendo a minha tranquilidade e nós não teremos mais noites infernais; apenas noites de mamã/bebé, que um dia passam, como tudo na vida.

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